Presidente
nacional do PMDB, o vice-presidente da República, Michel Temer, enviou uma carta à
presidente Dilma Rousseff nesta segunda-feira (7) na qual
apontou episódios que demonstrariam a "desconfiança" que o governo
tem em relação a ele e ao PMDB. Tenho mantido a unidade do PMDB apoiando seu
governo. “Isso tudo não gerou confiança em mim, masa desconfiança e menosprezo
do governo" A mensagem, segundo a assessoria da Vice-Presidência, foi
enviada em "caráter pessoal" à chefe do Executivo e, nela, Temer "não
propôs rompimento" com o governo ou entre partidos, mas defendeu a
"reunificação do país". Temer havia passado os últimos dias sem se
pronunciar sobre o acolhimento pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), de pedido de abertura de processo de impeachment. Nesta
segunda-feira, ele participou de evento público em São Paulo, mas não se
manifestou sobre o caso. O PMDB, principal partido da base, está
dividido em relação ao apoio ao processo de impeachment.
Na
carta, o vice-presidente Michel Temer cita o caso de Eliseu Padilha,
ex-ministro da Aviação Civil que pediu
demissão nesta segunda-feira após dias de especulação. Na coletiva de
imprensa na qual explicou os motivos da saída do governo,
Padilha mencionou, entre outros fatores, a indicação de um técnico para o
comando da Agência Nacional de Aviação Civil, feita por ele e barrada pelo
governo. Temer citou o caso.
Fonte: Andréia Sadi GloboNews, Brasília
Na íntegra a carta do
vice-presdente Michel Temer enviada ontem, 07 a presidente Dilma Rousseff.
São Paulo, 07 de Dezembro de 2.015.
Senhora Presidente,
"Verba volant, scripta manent" (As
palavras voam, os escritos permanecem)
Por isso lhe escrevo. Muito a propósito do
intenso noticiário destes últimos dias e de tudo que me chega aos ouvidos das
conversas no Palácio.
Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já
deveria ter feito há muito tempo.
Desde logo lhe digo que não é preciso alardear
publicamente a necessidade da minha lealdade. Tenho-a revelado ao longo destes
cinco anos.
Lealdade institucional pautada pelo art. 79 da
Constituição Federal. Sei quais são as funções do Vice. À minha natural
discrição conectei aquela derivada daquele dispositivo constitucional.
Entretanto, sempre tive ciência da absoluta
desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB.
Desconfiança incompatível com o que fizemos para manter o apoio pessoal e
partidário ao seu governo.
Basta ressaltar que na última convenção apenas
59,9% votaram pela aliança. E só o fizeram, ouso registrar, por que era eu o
candidato à reeleição à Vice.
Tenho mantido a unidade do PMDB apoiando seu
governo usando o prestígio político que tenho advindo da credibilidade e do
respeito que granjeei no partido. Isso tudo não gerou confiança em mim. Gera
desconfiança e menosprezo do governo.
Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles.
1. Passei os quatro primeiros anos de governo
como vice decorativo. A Senhora sabe disso. Perdi todo protagonismo político
que tivera no passado e que poderia ter sido usado pelo governo. Só era chamado
para resolver as votações do PMDB e as crises políticas.
2. Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para
discutir formulações econômicas ou políticas do país; éramos meros acessórios,
secundários, subsidiários.
3. A senhora, no segundo mandato, à última
hora, não renovou o Ministério da Aviação Civil onde o Moreira Franco fez
belíssimo trabalho elogiado durante a Copa do Mundo. Sabia que ele era uma
indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me. Cheguei a registrar este fato
no dia seguinte, ao telefone.
4. No episódio Eliseu Padilha, mais recente,
ele deixou o Ministério em razão de muitas "desfeitas", culminando
com o que o governo fez a ele, Ministro, retirando sem nenhum aviso prévio,
nome com perfil técnico que ele, Ministro da área, indicara para a ANAC.
Alardeou-se a) que fora retaliação a mim; b) que ele saiu porque faz parte de
uma suposta "conspiração".
5. Quando a senhora fez um apelo para que eu
assumisse a coordenação política, no momento em que o governo estava muito
desprestigiado, atendi e fizemos, eu e o Padilha, aprovar o ajuste fiscal. Tema
difícil porque dizia respeito aos trabalhadores e aos empresários. Não
titubeamos. Estava em jogo o país. Quando se aprovou o ajuste, nada mais do que
fazíamos tinha sequência no governo. Os acordos assumidos no Parlamento não
foram cumpridos. Realizamos mais de 60 reuniões de lideres e bancadas ao longo
do tempo solicitando apoio com a nossa credibilidade. Fomos obrigados a deixar
aquela coordenação.
6. De qualquer forma, sou Presidente do PMDB e
a senhora resolveu ignorar-me chamando o líder Picciani e seu pai para fazer um
acordo sem nenhuma comunicação ao seu Vice e Presidente do Partido. Os dois
ministros, sabe a senhora, foram nomeados por ele. E a senhora não teve a menor
preocupação em eliminar do governo o Deputado Edinho Araújo, deputado de São
Paulo e a mim ligado.
7. Democrata que sou, converso, sim, senhora
Presidente, com a oposição. Sempre o fiz, pelos 24 anos que passei no
Parlamento. Aliás, a primeira medida provisória do ajuste foi aprovada graças
aos 8 (oito) votos do DEM, 6 (seis) do PSB e 3 do PV, recordando que foi
aprovado por apenas 22 votos. Sou criticado por isso, numa visão equivocada do
nosso sistema. E não foi sem razão que em duas oportunidades ressaltei que
deveríamos reunificar o país. O Palácio resolveu difundir e criticar.
8. Recordo, ainda, que a senhora, na posse,
manteve reunião de duas horas com o Vice Presidente Joe Biden - com quem
construí boa amizade - sem convidar-me o que gerou em seus assessores a
pergunta: o que é que houve que numa reunião com o Vice Presidente dos Estados
Unidos, o do Brasil não se faz presente? Antes, no episódio da "espionagem"
americana, quando as conversar começaram a ser retomadas, a senhora mandava o
Ministro da Justiça, para conversar com o Vice Presidente dos Estados Unidos.
Tudo isso tem significado absoluta falta de confiança;
9. Mais recentemente, conversa nossa (das duas
maiores autoridades do país) foi divulgada e de maneira inverídica sem nenhuma
conexão com o teor da conversa.
10. Até o programa "Uma Ponte para o
Futuro", aplaudido pela sociedade, cujas propostas poderiam ser utilizadas
para recuperar a economia e resgatar a confiança foi tido como manobra desleal.
11. PMDB tem ciência de que o governo busca
promover a sua divisão, o que já tentou no passado, sem sucesso. A senhora sabe
que, como Presidente do PMDB, devo manter cauteloso silencio com o objetivo de
procurar o que sempre fiz: a unidade partidária.
Passados estes momentos críticos, tenho certeza
de que o País terá tranquilidade para crescer e consolidar as conquistas
sociais.
Finalmente, sei que a senhora não tem confiança
em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha
convicção.
Respeitosamente,
MICHEL TEMER
A Sua Excelência a Senhora
Doutora DILMA ROUSSEFF
DD. Presidente da República do Brasil
Palácio do Planalto
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